Sim. Eu poderia ficar por horas em cima de um palco falando sobre as coisas / pessoas a que sou obcecada. Talvez palco e plateia sejam muito fora da curva, pois sou introvertida. Mas vocês entenderam.
Ser fã fez parte de 99% da minha adolescência e início da vida jovem adulta. Escrevi fanfics, fui administradora de páginas e grupos no facebook, estive presente em fóruns, conheci autores e artistas que amo, criei grupos de leitura em conjunto, fiz amizades virtuais por gostos em comum, surtei e fiz minha primeira viagem pra assistir a um show internacional, contribuí financeiramente para os clubes dos meus influenciadores favoritos, briguei em grupos de facebook e whatsapp. Tudo que há em uma autêntica trajetória de fã, eu possuo.
Era uma parte da minha vida muito intensa. Por vezes intensa até demais. Hoje reconheço que ser fã nutre a gente de uma sobrecarga emocional absurda. Você cria narrativas que não existem para defender seu ídolo, enxerga uma importância em si mesmo que nunca existiu vindo daquela pessoa que você tanto admira. Você se envolve em muitas discussões que não existem no mundo real. Mas tem uma coisa que ninguém te conta: o quanto a obsessão’ nutre a sua alma.
Meu tempo gasto sendo fã me proporcionou as amizades mais incríveis e duradouras que eu nunca teria feito pessoalmente, por conta da minha depressão e timidez. Também me trouxe certa dependência emocional de pessoas tão distantes fisicamente de mim: e foi assim que fui aprendendo, na base de muito dor, o quanto dependência emocional pode ser ruim na vida de uma pessoa e para quem irá receber toda a carga. Mas o que eu mais sinto falta do meu tempo sendo apenas fã, é o quanto a vida parecia ter mais ‘razões para viver.’
E sinto que essa parte sonhadora, emocionada, esperançosa, de acompanhar assiduamente algo que você ama muito, morreu em mim e nas pessoas ao meu redor. Sei que estamos todos vivendo um ‘grande corre’ tentando ser alguém, tentando sobreviver a esse mundo louco e essa sociedade bizarra. Mas eu sinto fã de passar horas conversando sobre os relacionamentos da Taylor Swift, compartilhando teorias sobre a série Lost ou brigando com gringos xenofóbicos em grupos de facebook. Sinto falta de terminar um livro e ter alguém pra comentar a história como se aqueles personagens existissem na nossa realidade.
Eu sinto falta da disposição das pessoas para fugir da realidade. Se hoje em dia eu termino um livro ou filme, dificilmente tenho uma pessoa disponível para conversar comigo sobre. Para fugir da realidade. Às vezes nem eu tenho mais esse tempo disponível. As madrugadas em claro finalizando uma leitura ou rindo com os amigos no skype ficaram em 2013 mesmo.
A falta de uma fuga da realidade com companhia que me deprime. Vivemos um momento em que a ‘fuga’ se tornou ficar mais offline, ir para a academia, curtir uma roda de conversa para atualizações sobre as dores da vida com muita bebida e companhia dos amigos ‘de sair’ que fazemos pelo caminho. Comentar a série favorita? Só com os colegas de trabalho ~ pois eles passam mais de 10h do seu dia com você ~ isso se e quando eles assistirem.
Não quero apenas jogar conversa fora quando todo mundo está exausto da rotina. Sinto falta de uma comunidade sendo parte de algo de forma obsessiva. Sinto falta das nossas versões Annie Wilkes, de Misery. Sei que ainda existem muitas comunidades espalhadas por aí. Não faltam nichos no mundo. Eu sei que existem milhares de pessoas que são viciadas em vlogs slow living assim como eu. Mas elas estão mais dispostas a deixar comentários de identificação em um vídeo do que ter um tempo razoável de conversa com outra pessoa.
Eu quero de volta a fuga da realidade com conexões profundas de amores em comum. Quero de volta a obsessão. Quero de volta o tempo para se distrair com coisas inúteis. Quero de volta a leveza de se importar com o que não importa.